05 novembro 2006

Encontros imediatos (num supermercado perto de si)

Eu e o supermercado temos uma relação de amor-ódio. Eu gosto de escolher as coisas e deliciar-me com o prazer antecipado do que vou comer (confesso, é um dos meus guilty pleasures). Mas gosto de o fazer quando estou para isso.
Às 2ªs feiras, às 20h, a minha mãe costuma ir buscar-me ao IGL para irmos juntas ao supermercado, e daí para casa. Ora, eu às 2ªs feiras tenho aulas das 8.30 às 13h30, e das 15h às 20h. E nesta altura do ano, às 20h já está escuro e frio. Ou seja, ir fazer as compras da semana é tudo o que não me apetece. Mas enfim... "Vamos lá então". Só que acontece que o supermercado onde costumamos ir é muito perto do IGL. Logo, é muito comum estar no corredor dos iogurtes e dar de caras com o meu professor de coro, ou estar na fila para pagar e atrás de mim estar o meu professor de violoncelo. (Nada que não tenha já acontecido. Várias vezes.)
Imaginem a situação: estão muito bem a escolher bolachinhas e passa o vosso professor de Formação Musical. O vosso olhar cruza-se, não dá para fingir que não se viram. Trocam um sorriso de cortesia, mas em vez de ele continuar o seu caminho em direcção aos enlatados, desvia o olhar para a vossa mão (cuidadosamente fechada à volta de um pacote de Oreos) e enceta a seguinte conversa: "Ai vais levar essas? Eu não gosto nada dessas. Dão-me azia...". Um calor estranho envolve o vosso corpo de cima a baixo, e têm a sensação de que preferiam afogar-se numa chávena de café a escaldar do que estar naquele sítio, naquele momento, a ter aquela pseudo-conversa. Claro que podem sempre ver o lado positivo: ao menos não estão a falar sobre o tempo.

O meu ponto de vista é o seguinte: uma ida ao supermercado é algo de muito íntimo e pessoal. No cesto que arrastamos pelos corredores fora levamos toda a nossa vida (pelo menos, toda a nossa vida na próxima semana). É quase como se nos estivessem a ver a raio-x: quem olha lá para dentro fica a saber os nossos gostos pessoais e as nossas preferências mais requintadas (ou não... isso agora já é com cada um!). Fica a saber que champô usamos, que iogurtes preferimos, o que vamos comer ao almoço amanhã e os ingredientes da sopa do jantar.
Eu gosto imenso do meu professor de coro, acho que ele é impecável. Mas não faço questão nenhuma em que ele fique a saber que marca de pensos higiénicos é que eu uso. Percebem?

Por exemplo: aquelas pessoas que vão ao supermercado aos fins de semana. Estão mal vestidas, despenteadas e a cheirar mal; só querem pegar nas suas coisinhas e ir para casa. A última coisa que desejam é encontrar alguém conhecido (e acreditem, eu sei o que digo, porque eu já fui uma delas).
Por isso acho que cada pessoa devia ter o seu próprio supermercado, para poder fazer as suas compras na maior das tranquilidades, sem stress e sem usar espelhos nas esquinas. Ou isso, ou então passo a fazer as compras pela Internet...



Posfácio: Atenção que eu não tenho absolutamente nada contra nenhum dos professores que referi neste post. Bem pelo contrário, até gosto bastante de todos eles. Os nomes (ou melhor, as disciplinas) foram escolhidas mesmo ao acaso. Até porque já encontrei a maior parte deles no supermercado em questão.

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