Dias como os de hoje
Todos os dias o meu rádio-despertador toca às 7h25 da manhã, num despertar sincronizado para me dar tempo para acordar, ouvir uma ou duas músicas na rádio, e esperar ainda deitada pelas notícias das 7h30. Após as notícias, adormeço outra vez, normalmente acordando só muito perto das 8h. Acordo, e se está a dar uma música de que gosto, concedo a mim mesma o prazer de preguiçar mais uns minutinhos, enrolando-me ainda mais fundo no édredon. Quando já passa das 8h, obrigo-me a levantar e enfio-me debaixo do chuveiro, numa tentativa frustrada de afogar o sono que me engole. Sem resultado. A água quente deixa-me ainda mais mole, se é que isso é possível.Tomo o pequeno almoço com o corpo perigosamente debruçado sobre a mesa da cozinha. . A distância entre o meu nariz e a taça de cereais é assustadoramente pequena. Tenho a sensação de que preferia afogar-me naquela malga de leite acastanhado (do chocolate) do que ir para as aulas.
O caminho casa-escola é feito sempre pelo mesmo percurso. Sempre o mesmo ritual: sempre eu e o meu mp3, que tenta frustradamente acordar-me, os homens das obras que me apetece matar à paulada pelas "bocas" que mandam, o trânsito descomunal, os carros desordenados na tentativa geral de passar primeiro, 'está verde, palhaço! anda pá frente!', buzinadelas, palavrões, a amálgama do costume.
Chego à escola com 10 minutos de atraso porque saí da cama tarde demais (e em consciência disso) e, apesar disso, metade da turma ainda não está na sala (e a outra metade nem vai chegar a estar). Sento-me e, invariavelmente, sei que 90 minutos de inactividade física -que é suposta- e intelectual -não tão suposta assim- me esperam. Logo depois começa aquela fase que odeio: quero adormecer, apoio a cabeça nas maõs, os olhos pesam como chumbo, mas não posso. Não é que não queira, mas não posso mesmo: tenho a infelicidade de ter um nome começado por A, (além de ter nascido a 26 de Dezembro, mas isso é reclamação para uma outra perspectiva) pelo que a stora está mesmo à minha frente.
Vou olhando para o relógio do telemóvel: 8h52. Após o que me pareceu uma eternidade, olho de novo, tentando conter a expectativa de saber quanto tempo teria já passado. 8h54. Não é possível! Porque é que o tempo passa tão devagar?!!
Resolvo mudar de táctica: olho fixamente para o mostrador, na esperança cega e desesperada de que a fúria do meu olhar o faça mover-se com mais rapidez. Ele troça de mim: parece andar ainda mais devagar.
Grrrrrr... Rosno baixinho. O meu colega do lado olha para mim num olhar a que já me habituei, como se estivesse ao mesmo tempo surpreendido pelo meu comportamento, e com medo de que eu fosse sacar de um machado e começar a cortar às postas toda a gente à minha volta. Já estive mais longe, confesso. Vontade não me falta. Enfim, tento ignorá-lo. Lá fora chove como se não houvesse amanhã, o que me faz ficar ainda mais nostálgica em relação ao calor da minha caminha. Suspiro... Há dias em que não se devia mesmo sair da cama!