20 agosto 2006

Mas o que é isto?...

Eu sei que o título do post parece alusivo ao Rap dos Matarruanos (que, já agora recomendo vivamente a quem ainda não viu), mas o tema é para tudo menos brincadeiras.

No outro dia recebi um mail deveras bizarro (é óbvio que tinha sido enviado pelo meu irmão, perito nestas coisas). O mail tinha um texto e um vídeo; eu passo a citar o texto (que estamos de férias e um bocadinho de preguiça nunca fez mal a ninguém):

« Este filme é um caso verídico....Mostra um político norte-americano que, após ter sido descoberta uma corrupção em seu nome de (somente) US$ 15.000,00, chama a imprensa, lê sua carta de renúncia, pede desculpas à família e à nação, e suicida-se em frente às câmaras e aos estupefactos jornalistas... »

E depos o vídeo propriamente dito mostra precisamente isso: o senhor político (haja respeito!) a ler uma carta (suponho que de renúncia, mas o som é muito mau e não se percebe bem o que ele diz) e depois a pegar numa pistola, a metê-la na boca, e depois, entre os gritos histéricos da multidão, a premir o gatilho.

Foi uma cena bonita, portanto.
Agora o que me espantou nem foi a cena propriamente dita (isso há malucos para tudo; eu pessoalmente acho que sujar uma sala tão bonita era dispensável) mas a minha própria reacção. O meu primeiro pensamento após ver o vídeo foi "Hmm... Então foi assim que ficou o Kurt Cobain..." [para quem não sabe, o Kurt Cobain era o vocalista dos Nirvana que se suicidou em 1994 com um tiro na boca; eu sempre me recusei a ver as fotos do cadáver... acho pouco higiénico=P]

Ora pois... Para se pôr um vídeo destes a circular na internet, é porque tem audiências, é porque as pessoas gostam de ver este tipo de coisas.
A minha pergunta é: será que estamos a ficar tão insensíveis que ver um senhor a dar um tiro na cabeça e ficar a esvair-se em sangue no chão (e acreditem que a imagem não era de todo bonita) já não nos tira o sono?

Acho que já estamos tão calejados pelo mal que vemos todos os dias no mundo, que para nos chocar precisamos de uma dose bem mais forte do que dantes. É como com os medicamentos ou com as drogas: tanto as usamos que criamos resistências, e às tantas as doses que usávamos já não têm efeito em nós, precisamos de doses mais fortes, de doses cavalares.

Mas o problema é que este caso não é único. Sei de amigos meus que desde os 12 anos (ou mais cedo, não sei) visitam regularmente sites como o assustador, que se dedicam ao sensacionalismo puro (tipo telejornal da TVI, mas em grande escala), com vídeos de execuções ao vivo, imagens de cadáveres, e outras coisas deveras interessantes.

O que é que se passa com o mundo de hoje? Os avisos do tipo "este vídeo pode conter imagens chocantes para as pessoas mais susceptíveis" só garantem que os espectadores não mudam de canal... Já ninguém tapa os olhos às criancinhas caso se passe por um atropelamento; pelo contrário, as pessoas fazem questão de se aproximar e de comentar o sucedido com o parceiro do lado (que nunca viu mais gordo).

A pergunta impõe-se (e tem como banda sonora "Where is the love", dos Black Eyed Peas):

estaremos viciados na violência?...

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