03 agosto 2006

Devaneios musicais pelo Bairro Alto e noite adentro

A minha última incursão ao Bairro Alto foi na 4ª feira...
Normalmente, estas noites no Bairro são dominadas por conversas profundamente filosóficas (ou duvidosas, depende do ponto de vista) entre a minha pessoa, o André Baleiro e o Miguel Picciochi... E nesta última, a meio da noite e de uma longa e diversificada conversa sobre o meio musical (que os 3 temos em comum, embora em áreas diferentes) o Picci saiu-se com a seguinte frase, a propósito da minha vontade (ou não) de seguir música em termos profissionais:

"Só a partir do momento em que começares a tocar violoncelo na casa de banho é que podes considerar a hipótese de seguir música..."

Quando ele disse esta frase, eu apercebi-me de que ele tinha toda a razão.
Para seguir música, para fazer daquilo a MINHA VIDA, para TODO O SEMPRE (ok, estou a ser dramática...=P) é preciso estar numa simbiose tal com o instrumento, que até quando estou na casa de banho (esse ritual mágico!) estou a tocar. Porque ele faz parte de mim, e eu dele, e sem ele eu estou incompleta (ou devia estar, pelo menos) .

Como pode alguém sequer pôr a hipótese de fazer da música a sua vida, se não sente necessidade de estar com o seu intrumento?

Ao tocarmos um instrumento, ele deve ser uma extensão de nós mesmos. Devemos demonstrar, através do instrumento, o que estamos a sentir... E é por isso que se diz que os instrumentos são a continuação da nossa mente.
Deve haver uma relação tão próxima entre nós e o intrumento que só através dele nos podemos sentir completos, porque ele nos faz expressar-nos, e porque através dele mostramos às pessoas aquilo que sentimos, da maneira mais pura que pode haver - a música.

O meu professor de violoncelo, Edoardo Sbaffi, costumava dizer que "para tocar violoncelo é preciso sentir que estamos a fazer amor com ele."
E, de facto, é. Fazer amor no sentido em que duas pessoas (ou, neste caso, pessoa e violoncelo...) estão tão emocionalmente ligadas uma com a outra, que se ligam fisicamente de uma maneira tão gigante (como costuma dizer o Picci) que emana amor puro, e culmina num orgasmo - supremo prazer. E isso é a música.

Logo, se não se sente tudo isto, se não se suspira pelo nosso intrumento, se não se chora por ele, se não se vive por ele e com ele, como é que se pode querer ficar com ele e depender dele para o resto da nossa vida? É como um casamento, sim... (Já o Sbaffi o dizia!)

Deu-me que pensar...





















[foto tirada por dd, numa audição no IGL, em Maio]

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