11 agosto 2007

Sorrisos, estrelas cadentes e outras histórias inacabadas

Trocaste-me as voltas, bolas. Eu, que toda a minha vida achei que não temia a morte, agora (e só agora, passado quase um mês) me apercebo de que me aterroriza. Não por mim, mas pelos outros. O dia 12 de Julho de 2007 não foi o mais triste da minha vida - já se estava mais ou menos à espera do desfecho dos 12 dias de notícias em crescendo para o grave - mas só agora me apercebo de quanto me fez temer a morte daqueles que mais adoro. (Não devia ser ao contrário? Não devia já ter-me habituado?)

Pensei que o teu "elogio fúnebre" (expressão deveras engraçada, se mo permites) seria a coisa mais bonita que algum dia ia escrever. Não fui capaz e, aliás, depressa me apercebi de que não era esse o objectivo. Houve muita coisa que ficou por dizer - tanto no funeral como entre nós os dois. Coisas só nossas, que ninguém ia perceber... Por isso, fica aqui uma derradeira conversa - não digo homenagem, porque acredito sinceramente que essa representamos nós, eu e o JP, enquanto vivermos dignamente.

*

Apesar de tudo o que passámos, dos anos bons e dos anos maus, estranhamente (ou não?) os momentos em que tenho pensado mais são aqueles que não se situam nem numa categoria nem na outra. São momentos únicos, isolados, e muito, muito nossos. Aqueles momentos tão à filme que, se eu não os tivesse vivido, podia pensar que eram tirados de um qualquer filme sentimentalista americano. (Aliás, toda a tua vida é tão ironicamente cinematográfica que às vezes me pergunto se não serei, sem o saber, uma personagem secundária de um filme rodado às minhas escondidas).

Como naquela manhã chuvosa em que eu estava a passar na passadeira, casaco preto comprido até aos joelhos e chapéu de chuva cor de laranja vivo a dar um pouco de cor à cinzenta paisagem.
(De cada vez que penso nela, a cena desenrola-se à frente dos meus olhos previamente montada, de vários ângulos e com uma melancólica banda sonora por trás.)
O momento em que eu, personagem principal, pouso os olhos na figura curvada pela chuva que caminha meio indecisa do outro lado do passeio, casaco azul escuro e cabelo grisalho. Eu estaco, com um sorriso tão surpreso quanto divertido, e espero que tu levantes os olhos do chão para os passeares vagamente pelo sítio onde eu estou parada, até que me vês.
Ali estava eu, à chuva, casaco preto comprido e chapéu de chuva cor de laranja, parada, a sorrir para ti. Eram 9h10 da manhã, as minhas aulas começavam às 8h30 e tu sabias bem disso, mas não parecia importar a nenhum dos dois porque continuávamos ali parados a sorrir. E quando eu me aproximei de ti e balbuciei qualquer coisa como "Adormeci" (e era bem verdade!) tu simplesmente sorriste e disseste: "Vá, anda lá, eu levo-te à escola." (Tenho a certeza que terias pegado na minha mochila, se eu fosse responsável o suficiente para ter uma.)

Ou como naquela tarde em que eu estava muito atarefada e esperava tudo menos ouvir a tua voz. Eu estava quase a entrar em palco e estava desesperadamente à procura de um papel na minha mala, e quando finalmente o tirei e me ocupei em ler rapidamente e em voz baixa o que dizia, ouvi uma voz, que não identifiquei imediatamente porque naquele momento estava apenas preocupada em rever o que tinha de dizer para apresentar a peça que íamos tocar a seguir. A voz, que não percebi logo de onde vinha, disse: "Tens cábulas, é?" Quando levantei os olhos do papel vi-te a olhar para mim com um sorriso de miúdo traquina.
Esperava tudo nesse dia menos ver-te dentro daquela sala.
Esse concerto correu-nos especialmente bem. Foi a última vez que me ouviste tocar.


"There will be a day when we meet again, my friend. But not yet... Not yet."


Se o próximo dia 12 é importante não é porque faz um mês que nos deixaste aqui à nora, mas sim porque nessa noite vai haver um chuva de estrelas cadentes. Tenho uma imagem muito nítida de nós os dois (eu ainda pequenina) deitados num cobertor no chão do jardim, a olhar para o céu. (Lembro-me de pensar quão estúpidos os homens de antigamente deviam ser para não perceberem que a Terra era realmente redonda quando olhavam para o céu.)
Faz nesse mesmo dia 12 exactamente um ano que, pouco tempo depois de me prometeres sob as estrelas cadentes que tudo ia melhorar, te telefonei a dizer que ia haver mais uma das nossas chuvas de estrelas. Lembro-me da cumplicidade que senti quando nos rimos a chorar e pensámos em simultâneo que aquilo era de certeza um sinal de que a esperança podia ser renovada, pois tudo ia melhorar. Nunca pensei que amanhã, um ano depois, não fosses estar pelo menos à distância de um telefonema, para nos rirmos juntos mais uma vez.

Às vezes pergunto-me se a dor algum dia irá passar. Se algum dia vou acordar sem pensar em ti antes de qualquer outra coisa. Pergunto-me se algum dia vai deixar de ser doloroso olhar para o mar, do qual agora fazes parte, e ver os barcos a passar e pensar onde estarás e se alguma vez nos vamos voltar a ver. Aterroriza-me a ideia de nunca mais, nunca mais, te ver. Gosto de pensar que um dia, quando eu morrer, nos vamos encontrar de novo e eu vou poder matar as saudades de uma vida quase inteira, mas quanto mais o tempo passa mais perco essa esperança, não sei porquê.

(E se nunca mais te vir? Não quero nunca mais te ver, já estou a morrer de saudades e ainda só passou um mês...)


E ficámos com uma conversa por acabar! Naquele dia em que nos encontrámos em Entrecampos e tu me compraste flores porque estavas feliz... Eu tinha de ir para Sete Rios, por isso fomos os dois a pé, a conversar imenso enquanto subíamos as Forças Armadas. Nesse dia senti que parecíamos mais dois amigos que pai e filha. Contaste-me montes de histórias sobre a tua adolescência enquanto lanchávamos e depois, quando nos separámos, prometeste que um dia me contavas tudo sobre o teu passado activista.
Esse dia é uma das melhores recordações que tenho nossas dos últimos tempos.

Tal como aquele dia em que me foste buscar a casa para irmos a pé até ao IGL porque eu tinha uma aula extra de ATC (mas porque raio é que acabávamos sempre por passar em Entrecampos?!...) e depois quando chegámos lá eu resolvi que não valia a pena ir à aula e voltámos para trás, a rir e a gozar...

*

Amanhã, dia 12 de Agosto, vou-me sentar na praia, à noite, à espera da habitual chuva de estrelas. Rodeada pelo céu, pelo vento, pelo mar e pelas estrelas, espero mesmo ver-te por ali. Até logo!




03 julho 2007

aqui vai um do interesse geral

Com a época de exames em águas de bacalhau (eles até já estão feitos, as notas é que ainda não sairam para deixar o pessoal finalmente descansado - ou não...) aqui fica um site que penso ser do interesse de quase todos os visitantes deste blog (e daí, talvez não).
Se calhar sou eu que sou completamente ignorante nestas andanças, mas só hoje soube da existência deste site que fornece partituras gratuitamente.

Valha-nos isso!

18 junho 2007

olé

08 junho 2007

Nostalgia académica

Sim, é verdade... Hoje é o meu último dia de aulas numa escola secundária.

3 anos e pimba, já está. Foi só isto? Entrar no 10º ano toda contente, e ups, de repente já está tudo a fazer contas à vida (ou às décimas) para ver se "dá para entrar".

Dizem-me que hoje a minha vida vai mudar. Que nunca mais vou estar com as mesmas pessoas todos os dias. Que tudo acaba aqui. Que a partir daqui vai ser tudo diferente. Que um ciclo de 3 anos (há quem use mesmo o efeito mais dramático dos 12) se acabou na minha vida e que nunca mais vou poder voltar atrás.

E eu respondo...


E depois?


Não percebo qual é o drama. Para onde quer que me vire há pessoas abraçadas a chorar baba e ranho, a fazer juras de amizade eterna, a olhar com melancolia o edifício que se esquecem ter odiado incrivelmente durante 3 anos. (Todo este tempo a dizer mal da escola, e de repente não querem sair dela?)

Pelo amor de Deus. (E eu é que costumo ser a drama queen...)
Percebo que estejam emocionados por ter acabado um ciclo das suas vidas, por irem enfrentar um novo papão que é a faculdade. Mas calma lá, não é preciso dizer que o mundo acaba hoje...

A minha perspectiva? É um novo ciclo que começa, não um que acaba! As amizades que forem para durar duram, mesmo na distância entre faculdades, acreditem...
Há uma carrada de novas oportunidades que se formam à nossa frente, e no que vocês pensam é que nunca mais vão passar uma manhã no Amarelo? Eu sei que nestas alturas a nostalgia pode atacar, mas, minha gente, não é para choramingar, é para arregaçar as mangas, que há muita coisa para viver ainda!


Não é o fim do mundo, é apenas o princípio...


27 maio 2007

no fundo, apenas um complexo "muito obrigada"

Sinto-me obrigada a curvar-me. Nunca ninguém me levou as lágrimas aos olhos tão depressa e intensamente. Não há palavras para descrever o orgulho que tenho em ti. És ao mesmo tempo tão menina, e tão adulta... És uma menina que cresceu depressa de mais, és uma adulta que ficou presa nas teias do tempo e da saudade.
És um murmúrio quente soprado no escuro do silêncio, és uma lágrima que escorre pelas cores do arco íris, és o meu sorriso quando as estrelas se vão deitar.


(Lembras-te daquela noite em que não conseguias dormir? Uma como tantas outras... E de manhã acordaste-me com festinhas e um sorriso maior do que o sol, e disseste: "Esta noite não consegui dormir, portanto passei-a a tocar. Mas não tinha nada em clave de dó na terceira..." Lembras-te? Tive muita pena que não me tivesses acordado, para passarmos a noite acordadas juntas.)


Quando vou à praia à noite, lembro-me sempre de ti. Lembro-me de uma conversa que uma vez tivemos, e da vontade que tinha de te abraçar porque estavas triste. Ainda tenho.
Ainda te guardo aqui dentro, quentinha, para que não tenhas frio. Ainda te aconchego nos lençóis da madrugada, quando me dizes que te dói a cabeça e a pões no meu colo.


(Tenho muita pena de não passarmos mais tempo juntas. Uma vez disse-te "84 kms não são nada", lembras-te? Tento acreditar que ainda não são. Mas às vezes custa.)


Há muitas coisas que ainda não te contei. Às vezes tenho medo de não chegar a contar tudo. O tempo escorre-nos por entre os dedos, sabes? E às vezes tenho muito medo que alguém encurte o nosso. Não deixes que isso aconteça.

E toma bem conta da nossa menina. Para que possa(mos) continuar a sorrir. De mãos dadas.

02 maio 2007

Once and again


Há muito, muito tempo que não tinha tempo, paciência e/ou inspiração para escrever aqui. No fundo, acho que estabeleci uma fasquia muito alta para este blog. Nada era bom o suficiente para postar.

Do que não me apercebi foi que este é o meu blog. A minha forma de me expressar para o mundo. Posso fazer dele o que quiser. Porque não? Não é uma competição, nem tem de ser.


***


Hoje (re)encontrei-me comigo mesma. Há muito tempo que isso não me acontecia. Não vos diz nada a vocês, bem sei. A maior parte das pessoas que lê este blog nem sequer sabe o suficiente sobre a minha vida para compreender o que estou para aqui a dizer. Eu própria começo a franzir o sobrolho ao pensar no que estou a escrever. Mas não importa: aconteceu-me algo de importante, e quero partilhá-lo. Patético? Talvez. Ainda assim...


A todas as pessoas que influenciaram de algum modo a minha vida (e foram muitas) o meu muito obrigada. A maior parte delas se calhar nem tem consciência de que o fez.


Inês André Miguel Jota Carolina Zé Wilson Bela Liliana Carlos Rui Aurora Fifi Rúben Joana Duarte Alice Gonçalo Xicão Teresa TóZé Guiga Adriana Luís Edoardo Bartolomeu Peq Núria Pedro Tiago Rocio Joana Lupi Manuel Gonçalo Filipa Anne Manel Lourenço Miguel Sofia Bruno Micha João Catarina Armando Margarida Cristóvão Dulce Rodrigo Joana Rita Felícia Pedro Nuno Gonçalo e muitas outras...

Fizeram de mim o que sou hoje, para o bem e para o mal. Obrigada por isso.
(Agora aguentem-se à bronca!)

21 fevereiro 2007

that's it!


"I remember one morning getting up at dawn, there was such a sense of possibility. You know, that feeling? And I remember thinking to myself: So, this is the beginning of happiness. This is where it starts. And of course there will always be more. It never occurred to me it wasn't the beginning. It was happiness. It was the moment. Right then. "
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Michael Cunningham, "The Hours"
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[ peço desculpa por os posts ultimamente serem assim às pinguinhas... prometo que vou fazer qualquer coisa de mais produtivo brevemente, mas entretanto vou-vos deixando aqui os meus "post-its" mais recentes e queridos :)
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foto em Lagos, Setembro 2006 ]